segunda-feira, 24 de março de 2014

Relato de Parto – Alena e Rafaela

Meu nome é Alena e sou mãe da Rafaela, de 14 meses. No grupo em que participo pediram relatos de cesárea necessária e comecei a pensar em relatar a minha. Li inúmeros relatos de parto, desde a minha gravidez, mas nunca li um relato de cesárea, por isso eu nunca pensei em fazer o meu. Mas aqui vai, e tomara que doa menos que a cesárea...

Eu, durante a gravidez, havia decidido por um parto normal, sem analgesia, sem intervenções, porém hospitalar. Sou medica e medico gosta de hospital, além do que somos ensinados a pensar que tudo pode dar errado. Durante a gravidez, trabalhei demais, e me estressei muito. Meu apartamento foi entregue 20 dias antes da Rafa nascer, depois de 18 meses de atraso, e eu corria feito doida com documentação, depois piso, moveis, quartinho. Se eu soubesse mais, teria deixado tudo acontecer no seu tempo, teria curtido mais a gravidez. Não sei se foi por isso, mas eu comecei a ter pressão alta, com umas 34 semanas. Esse problema eh chamado pre eclampsia ou doença hipertensiva especifica da gestação.

Tomei os remédios e estava bem. Mas no dia de Natal, 25/12/2012, com 36 semanas e 6 dias, eu comecei a ter dor de cabeça, e estava indisposta, dor de estômago e enjoada. Comi pouco, era almoço de Natal e a família estava toda na casa dos meus pais, onde eu ainda morava pois não tinha ainda conseguido me mude devido ao atraso do apartamento. Fui me deitar, não estava me sentindo bem. Antes, medi minha pressão e estava um pouco alta, mas sei lá porque eu associei ao calor (porque na verdade seria o contrario). Deitei e esperei abaixar. E não abaixou. Meu marido pediu pra ligar pra obstetra, liguei e ela pediu pra eu ir pra uma maternidade com UTI. Chegando lá eu já estava com a vista turva, e fui pro cardiotoco. Os batimentos da Rafa estavam bons, com momentos de queda. Fui então pra cesárea de urgência, pois todos os sintomas apontavam para uma convulsão iminente (iminência de eclâmpsia). Assumi o risco de não ser medicada para convulsão, pois senão eu teria que ir para a UTI e não poderia amamentar a Rafa nas próximas 24 horas. Era um risco, pois eu sem ser medicada, poderia convulsionar por até 14 dias pôs parto. Aceitei o risco. Eu queria amamentar. Fui pro centro cirúrgico, fui anestesiada e cortada. E assim a Rafa foi nascida. Foi tirada. E não nasceu.

O relato de cesárea não tem nada de lindo, tem muitos termos técnicos e muita justificativa, porque dói. O início da maternidade efetiva é parir. E quando isso não acontece? Como que começa? Naquele momento em que a mãe e bebe se encontram um de ponta cabeça pro outro? Ou naquela hora que a mãe encosta a mão amarrada no rosto do bebê? Ou quando as pernas estão insensíveis, você esta numa maca indo pra recuperação anestésica e seu bebê levado pra algum berçário, longe do colo da mãe? Que horas que começa? Me deram um antialérgico por causa do efeito da anestesia, que me chumbou e eu não conseguia abrir o olho para amamentar minha filha na primeira noite. E fiquei grogue durante os três dias em que eu estava na maternidade.

Pra mim, a maternidade talvez tenha começado quando cheguei em casa (direto pro apartamento), com pontos na barriga, sem sofá, e pra sentar, apenas uma cadeira de praia que fazia doer muito o corte toda vez que sentava e levantava da tal cadeira. Ou talvez tenha começado no curso de shantala, onde, com massagens, toque, canto e amor, eu tenha ajudado a Rafa a aterrar, a sentir, a nascer. Ela tinha uns 3 meses. E eu não sei quando começou, talvez nunca irei saber...



E eu sempre vou me perguntar: "e se eu tivesse passado menos estresse, será que a pressão não teria subido?". "Será que ... ?".
Estou a caminho de me perdoar por não ter parido. Sei que a Rafa, no seu amor imenso e na sabedoria e leveza de criança me perdoou. Nós criamos nosso vinculo com amor, amamentação, colo, carinho e cumplicidade. Nós somos mãe e filha não por causa da cesárea e sim apesar dela. E fazemos um começo e recomeço todos os dias, em cada abraço e em cada beijo. E a cada história que começa, essa sim bela, com apego, respeito e muito amor.

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